quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O PADRE FREITAS DE PIRIPIRI


                             

Quem é o fundador de Piripiri?

O homem que fundou Piripiri chamava-se Domingos de Freitas Silva, nasceu na Vila da Parnaíba em 1798. Era filho caçula de Domingos de Freitas Caldas e de Rita Maria de Almeida e tinha como irmãos: José Catarina De Sena e Silva, Maria Rita da Silva e Bernardo de Freitas Caldas. Teve como padrinho de batismo o vigário da Vila, o Padre Henrique José da Silva, do qual herdou o último sobrenome.

Seu pai era de origem portuguesa e estava ligado por laços de parentesco e amizade aos Dias da Silva, uma importante família que durante gerações liderou os caminhos da Vila da Parnaíba. Esta ligação lhe valeu durante anos, o cargo de escrivão do cartório da referida vila, que mais tarde passara as mãos de Bernardo de Freitas, irmão mais velho do fundador, que juntamente com diversos outros nomes parnaibanos, figuraram no processo de independência do Piauí em 1822.

Detalhes de sua infância são desconhecidos, conseguimos coletar apenas que Domingos de Freitas revelou-se um jovem inteligente, o que lhe valeu por parte de seu padrinho de batismo o custeio de seus estudos na escola e posteriormente no seminário, onde se ordenaria presbítero secular em São Luís do Maranhão. Regressando à terra natal, exerceu atividades eclesiásticas e de regente da cadeira de latim até o rompimento do movimento de Independência do Piauí, quando se refugiou em Granja no Ceará, acompanhando seu irmão Bernardo e os outros líderes do levante.

Ao retornar da fuga, abrigou-se em terras da freguesia de Piracuruca. Não se sabe o real motivo de sua vinda, algumas hipóteses levam a idéia de perseguições. Ou motivos políticos ligados ao movimento de independência, ou motivos pessoais, entre eles desavenças com familiares de uma mulher que ele resolvera abraçar como companheira: a jovem Lucinda Rosa de Sousa, que viria a ser mãe de cinco e seus doze herdeiros. Ela era membro da família Silva Henriques, outra influente família Parnaibana. Um momento crucial na vida do fundador de Piripiri foi a notícia da contratação de um assassino de aluguel para lhe eliminar. Franco Cascavel era o nome do pistoleiro. Sobre este episódio, Judith Santana em sua obra - O Padre Freitas de Piripiri, relata:

“Na noite de 23 de junho de um ano daquele começo do século XIX, estavam alguns rapazes e moças festejando o São João na porta da Igreja matriz de Nossa Senhora do Carmo em Piracuruca. Como de costume, faziam experiências para desvendar o futuro. Uma bacia com água estava à disposição das pessoas que quisessem participar da brincadeira. Quem não visse a sua imagem refletida na água benta em volta da fogueira não veria o São João do Ano Seguinte. Um rapaz que ali se encontrava com a noiva disse que não ia olhar, pois sendo jovem, sabia que viveria muitos anos. A dois passos estava Franco Cascavel. De repente caiu o jovem. Caiu morto. E Franco Cascavel disse, retirando-se: Foi cascavel, mas não fui eu! E desapareceu. Dois homens que procuraram socorrer o rapaz encontraram enfiado em suas costas um punhal envenenado. Não havia dúvida. Fora o Cascavel. As autoridades responsáveis pela segurança da Vila, informadas de que o assassino era o pistoleiro que andava à procura de Domingos de Freitas e  Silva, a mando de um dos chefes da Vila da Parnaíba para tirar-lhe a vida, despacharam soldados em diligências, perseguindo-o. Conseguiram encontrá-lo em Barras, ponto de parada para descanso no Trecho Piracuruca a Livramento. E começou um terrível tiroteio. De um lado a violência dos soldados. Do outro, Franco Cascavel atirando, defendendo-se, resistindo sozinho. Por fim, caiu morto atingido por um tiro.(...)”

Depois deste incidente ele passou a viver na Fazenda Gameleira, juntamente com sua companheira D. Lucinda, suas duas filhas de outro matrimônio - Lucinda Rita da Silva e Joana Paula da Silva, e os filhos frutos da união do casal: Domingos de Freitas Silva Júnior, Porfírio de Freitas e Silva, Raimundo de Freitas e Silva, Amélia Clemência da Silva e Antônio Francisco de Freitas e Silva. A três de junho de 1839, na Fazenda Gameleira, morre sua primeira companheira cujo corpo fora sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Carmo em Piracuruca. No ano seguinte, 1840, Domingos de Freitas, já morando com sua nova mulher, D. Jesuína Francisca da Silva, adquire terras na Data Botica, dando início à ocupação das terras que daria origem a cidade de Piripiri. Desta segunda união nasceram mais sete descendentes: Henrique de Freitas Silva, Raimunda Francisca da Silva, Antônio de Freitas Silva Sampaio, Rita Maria de Almeida e Silva, Maria Justiniana da Silva, Umbelina Inácia da Silva e Aureliano de Freitas Silva. Destes doze filhos reconhecidos em seu testamento, se ramificaram diversas outras famílias presentes até os dias atuais na cidade de Piripiri.

Em 1862 o Padre Freitas redige seu testamento e deixa claro as suas vontades mortuárias:
“Meu corpo será sepultado na Capela de Nossa Senhora dos Remédios, ereta a minhas expensas caso faleça neste lugar de Piripiri por mim fundado; meu enterramento será feito com o acompanhamento de meus irmãos sacerdotes, que existirem no lugar(...)No dia de meu enterro darão meus Testamenteiros trinta mil réis de esmolas aos pobres, que acompanharem o meu corpo a sepultura, com igualdade, e mandarão dizer a missa de Corpo presente(...)”


Sobre os seus últimos dias, Judith Santana ainda nos fala:

“Mas à medida que o tempo passava iam-lhe chegando os achaques da idade, os sintomas de um câncer externo minando-lhe o organismo. Começava a decadência física muito embora o espírito ainda não estivesse embotoado pela arteriosclerose. E a 26 de dezembro de 1868, aos 70 anos, faleceu. Encerrava-se a trajetória terrena de um home digno de aplausos piripirienses de todos os tempos. Deixava o Padre Domingos de Freitas Silva o seu nome escrito nas páginas da história da terra por ele fundada e amada.”

Seus pedidos foram cumpridos, seu corpo foi sepultado na capela por ele fundada. Porém em nome do “progresso” seu corpo foi transladado. Sobre este fato, Cléa Rezende Neves de Melo nos fala em sua obra Memórias de Piripiri, páginas 99 e 100 sobre estes fatos ocorridos no presente ano:

“1940 – O Prefeito Nelson Coelho de Rezende inaugura o calçamento da Rua João de Freitas e um obelisco marcando o local onde estava a primeira capela de N. S. do Rosário e o túmulo do fundador  1940 – Inaugura-se, em 19.09 a segunda capela de N. S. do Rosário, construída para receber os restos mortais do Fundador, transladados da primeira capela, que foi demolida. A construção, homenagem do povo piripiriense, em terreno doado pela Srª Carolina de Moraes Aguiar e Silva, esposa de João de Freitas e Silva, bisneto do fundador, serve de jazigo perpétuo do Pe. Domingos." (imagens 2 e 3)
foto 2 (construção do calçamento da rua João de Freitas) 
autor desconhecido

foto 3 - construção do calçamento da Rua João de Freitas (autor desconhecido)

Ao nos depararmos com estes fatos da vida do fundador não nos foge o questionamento de que como um sacerdote poderia se casar e ter filhos? Poderemos encontrar uma possível resposta se observando os costumes familiares do Brasil colônia e Império, pois era quase que uma obrigação nas grandes famílias desta sociedade, a existência de pelo menos um membro parte do eclesiástico. E como o padrinho de batismo de Domingos de Freitas era um desses, ele seguiu a referida carreira mesmo sem ter possivelmente se reconhecido pelo chamado sacerdotal. Pois em uma sociedade fincada em fortes regras religiosas católicas cristãs desde a colonização portuguesa, cabia muito bem esta função.
Além de sacerdote, Domingos de Freitas também se mostrou homem de negócios. Em seu testamento também deixa claro suas finanças. Desde suas posses, herança recebida, gastos com seus familiares durante vida e pós-morte, dotes a suas filhas e enteadas, até seus devedores.
Padre Freitas não deixou nenhuma imagem. Pois do período de sua morte, a fotografia ainda estava em seus passos iniciais, e a pintura de um quadro, era privilégio de poucos em seu tempo. O que temos, segundo Judith Santana é a fotografia de um de seus filhos, Freitas Júnior, (figura 4). Segundo seus familiares, Fisicamente, o Pe. Freitas era um homem de estatura mediana, alvo de feições rosadas, olhos azuis e acentuada saliência no pescoço. Já sobre a personalidade do fundador, Cléa Rezende Neves de melo, escritora e também descendente do fundador o padre tinha um gênio forte. Era ligeiramente gago e vez por outra, discutia com seus fiéis e era acometido de ataques apopléticos, caracterizado pela privação temporária dos sentidos. Depois da crise, ia fazer as pazes com seus desafetos. Ela ainda afirma que nem todos os Freitas aceitam esta versão, mas contemporâneos do fundador confirmavam este fato. “A história não se resume só a enaltecer a figura mítica dos grandes sujeitos, também é preciso lhes atribuir a figura humana”. Finaliza a escritora sobre o fundador de Piripiri.
Uma obrigação mínima de todo piripiriense, nato ou de coração, seria enaltecer para as atuais e próximas gerações a memória deste cidadão do mundo – Domingos de Freitas Silva, ou simplesmente o nosso Padre Freitas de Piripiri.


Fonte de pesquisa:
Judith Santana -  O Padre Freitas de Piripiri. 1984.
Cléa Rezende Neves de Melo – Memórias de Piripiri. 2ª edição. 2001.
Arquivos da Paróquia de N.S. do Carmo de Piracuruca-Pi.

 



























4 comentários:

  1. é bastante visível que hoje em dia, uma das pessoas mais preocupadas com a história de nossa cidade é você professor Marcão, que disponibiliza parte do tempo corrido de professor para pesquisar, escrever, divulgar nossa história, não deixando esquecida a memória da cidade piripiriense. Parabéns pela iniciativa. E uma sugestão,que o senhor também faça uma página no facebook, para que toda atualização desse blog seja divulgada lá assim levando os curiosos a vir a esta página beber da fonte da história. Abraço.

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  2. Muito obrigado Rafael Monteiro. Pode ter certeza que estas suas palavras me dão força para continuar nesta batalha! E pode ter certeza de que estamos providenciando esta página no facebook. Obrigado pela sugestão! abraço.

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  3. MEU CARO MARCO, NÃO ENTENDI QUANTO À CONSTRUÇÃO DA CAPELA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO. O CORRETO NÃO SERÁ CAPELA NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS?

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  4. A primeira Capela era nominada de Nossa Senhora do Rosário em homenagem aos negros que lhe acompanhavam (1844). No dia 16 de outubro de 1853, em homenagem a meu bisavô - Antonio de Freitas e Silva Sampaio - alterou o nome da Capela para Nossa Senhora dos Remédios. Com a destruição da primeira Capela e a construção da atual ficou a "confusão de qual devoção": Nossa Senhora dos Remédios e/ ou Nossa Senhora do Rosário, já que havia Igreja com a devoção de Nossa Senhora dos Remédios.

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